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PARASHAT DEVARIM

B”H 

Parashat Devarim (Devarim 1:1-3:22)

 

A Parasha desta semana inicia-se com a leitura da primeira porção do último livro da Torah que tem como título “Devarim” ou “Palavras”. Este Sefer (livro) também é conhecido como “Mishne Torah”, ou seja, “repetição da Torah”. Desta forma ele revê a grande maioria das mitsvot relacionadas nos quatro seferim anteriores, Bereshit, Shemot, Vaikra e Bamidbar, mas também acrescenta algumas novidades.

 

Nesta porção, a Torah comenta sobre as guerras e as conquistas ao leste do Yarden (Jordão), onde os Benei Yisrael vencem os reis Sichon e Og, antes da entrada na terra prometida. Comenta também sobre a convocação do Sinedrim (setenta anciãos) e o episódio dos meragelim (espias). Assim ela relata em um conciso resumo, as jornadas dos Benei Yisrael durante seu trajeto, até ao tempo da composição do livro, pouco antes da entrada em Erets, quarenta anos depois da redenção do Mitsraim (Egito).

O que a Parasha nos ensina hoje? 

  

A Messorá (tradição judaica) afirma que o Sefer Devarim foi escrito por Moshé Rabeinu por iniciativa própria e ela na verdade é o relato de um grande e último discurso do grande profeta, antes de deixar este mundo. No Mishnei Torah, entretanto, foram escritas palavras divinamente inspiradas, que contém a revelação Divina para que o homem possa entender e cumprir a vontade do Eterno. As palavras inspiradas expressam conceitos profundos. Há Devarim (as palavras) tem o poder de comunicar ideias, sentimentos, emoções, histórias, etc. No entanto ela necessita, tanto em sua forma escrita como falada, de que o seu ouvinte ou leitor compreenda os caracteres, língua, idioma e assim consiga interpretar sons e escritos, para que se efetive a comunicação desejada. Assim as palavras em si contém o potencial de comunicação, basta o homem ter o elemento decodificador para que elas possam ser inteligíveis e exercer plenamente seus propósitos.

 

Esta Parasha é lida todos os anos no Shabat antes de Tisha be Av e é chamado de Shabat Chazon (Visão). Entretanto, aquele que não tem visão, não pode compreender ou ver a realidade do jeito que ela é realmente. Esta visão em especial, não corresponde a visão das coisas materiais, mas da realidade espiritual que coexiste com a percepção das coisas palpáveis e que podemos enxergar com nossos olhos materiais. Portanto sem visão espiritual o homem não pode enxergar os detalhes, a essência, o corpo e intenção da profecia e da Palavra escrita ou dita.

 

Além disso, podemos identificar quão importante são estes dois fatores da revelação Divina, tanto a profecia quanto o entendimento que representa o solo fértil para que a semente possa crescer e frutificar. Desta forma a intenção de Moshe Rabeinu em anunciar a palavra era se fazer entender aos Benei Yisrael onde eles teriam errado no passado, bem como todas as mitsvot e vontade Divina expressas nas Palavras da Torah, para poderem compreender os planos de HaShem para o futuro, uma nova etapa que se iniciaria no presente momento onde eles enfim, tomariam definitivamente as terras da promessa.

 

As palavras que Moshe falou nesta primeira porção se relacionam a alguns lugares que os Benei Yisrael se rebelaram contra HaShem. A Torah nos diz” Estas são as Palavras que falou Moshe a todo Yisrael, de além do Ha Yarden, no deserto, da planície, de defronte ao Yam Suf (Mar Vermelho), entre Paran e entre Tofel, Laban, Chatserot e Zi Zahav” (Devarim 1: 1). Os comentários do Talmud nos diz que estes são os lugares onde os Benei Yisrael se rebelaram contra HaShem e a intenção aqui era destacar o erro para que não ocorresse novamente. Todas estas revoltas ocorreram pela falta e carência de visão espiritual e de fé de muitos do nosso povo, o que acabaram afetando todo Am Yisrael.

 

A Haftará desta Parasha está em Yesha'yahu capitulo primeiro, onde o navi tem uma visão de HaShem. Esta está na forma de admoestação e inicia-se com a questão da falta de entendimento de Seu povo. “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque Adonai tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra Mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende” (Yesha'yahu 1: 2-3). O Eterno repreende os Benei Yisrael por ter deixado os caminhos de Torah e Mitsvot e se apegado ao culto pagão, a injustiça social, a corrupção e diversas transgressões que a Torah proíbe, em um sincretismo profano com o rito e religiosidade judaica vazia e desprovida de conteúdo, sem a espiritualidade verdadeira e sincera, a qual se submete totalmente a vontade do Eterno.

 

Assim, a profecia esta disponível de forma escrita no TaNaCh e Brit HaDasha e muitas vezes no próprio coração e na boca do homem, basta a ele desenvolver a visão e a sua espiritualidade. Naturalmente o boi conhece seu dono pois é ele que lhe alimenta diariamente e assim conhece porque tem experiências com ele. HaShem exorta e diz que Israel tendo experiências com Ele não quer reconhece-Lo como Soberano, não quer enxergar nem compreende a realidade por causa da cegueira do pecado. Assim a visão alude a capacidade de compreensão espiritual, no entanto esta compreende em um dom e da revelação Divina.

 

Todo ser humano sendo imagem e semelhança do Criador, Bendito Seja, tem o potencial de ter este discernimento, mas isto exige o restabelecimento do relacionamento do homem com o Eterno, uma vez que este está rompido pelo seu próprio pecado e o pecado cega o homem fazendo com que este se afaste de D’us e da realidade espiritual. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Ruach Elohim, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Eterno, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente do Mashiach;” (1 Coríntios 2: 14-16).

Portanto, as palavras de Moshe, como as de Yesha'yahu carregam em si a inspiração Divina, a mensagem que HaShem quer comunicar a Seu Povo e ao ser humano. No entanto este deve ter a capacidade de entender o seu conteúdo e a sua linguagem, não somente como um idioma, mas de caráter espiritual. Cabe ao homem antes de tudo escolher ao Eterno e compreender sua mensagem e andar segundo Sua vontade. Podemos ilustrar este conceito com uma parábola que segue abaixo.

A História dos quatro reis no labirinto

Depois de uma revolta contra um rei soberano, esta rebelião foi frustrada e os quatro reis rebeldes durante as batalhas foram feridos. Dois dos reis os inimigos quebraram suas pernas e ficaram paraplégicos e os outros dois foram feitos cegos pelos soldados. O Rei vitorioso submete os reis prisioneiros a um teste o qual eles teriam que sair de um labirinto de plantas de grande estatura em até 24hs. Se acaso conseguissem, retornariam então ao trono como vassalos, mas caso contrário, seriam mortos. Então os reis foram colocados todos juntos no meio do labirinto e deixados pelos soldados. Um deles disse para o outro sem visão: Nós não conseguiremos achar a saída a tempo, eu não poderei enxergar o caminho estando rastejando aqui em baixo e você sem a visão, não conseguirá achar a saída e irá caminhar e procurar em vão. Deixe-me subir em suas costas e juntos conseguiremos sair, eu serei os seus olhos e minhas pernas você será.

 

O rei cego lhe disse então: Jamais alguém subirá em minhas costas, eu sou um rei e eu mesmo conseguirei por mim mesmo, pois posso caminhar muitas milhas e tenho ainda muito tempo e energia para achar a saída. O outro rei cego disse: Eu aceito, suba em minhas costas e juntos acharemos o caminho! Os outros dois reis zombando deles começaram a procurar a saída e se distanciaram um do outro. Depois de muitas horas, quase se findando o tempo, os dois reis juntos encontraram a saída e fizeram muita festa e barulho ao sair. Os outros dois reis ouvindo o que ocorrera começaram a se procurar desesperadamente, mas eles estavam muito distantes da saída e um do outro. Desta forma não conseguiram o intento pois o tempo logo se findou.

Esta metáfora nos indica que os dois reis representam a composição da natureza do homem. O cego representa o corpo, a sua parte material e o paraplégico a alma e seu aspecto espiritual. O corpo vem da terra e busca somente o que esta dimensão pode oferecer, ele não tem visão da realidade espiritual e quer a todo estante satisfazer seus próprios anseios materiais. Contudo a alma vem do shamaim (céu) e deseja as coisas relacionadas com o seu mundo de origem. A alma humana tem sede de D’us e quer se relacionar com o Criador pois Ele preenche e dá razão em sua vida. A alma submetida pelo corpo fica inerte e paralisada, restringe sua visão em um campo inferior, onde não consegue discernir a realidade, ela fica como cega, como morta. 

 

Contudo ela, por ser mais elevada que a matéria, deve estar acima do corpo para poder enxergar, ela deve submeter o corpo e direcionar todo o ser segundo sua visão, a que consegue discernir pela Palavra de D’us que a alimenta. Quando a alma sem visão e submetida pela matéria perde o corpo, já não há mais esperança, finda o seu período, pois o tempo é curto e a vida nesta terra é a única chance que HaShem nos dá para termos a visão de D’us e andar segundo a Sua vontade expressa em Sua Palavra, a revelação Divina a todo ser humano. Que possamos ver e reconhecer Mashiach, a verdadeira visão e revelação de D’us, a verdadeira luz e verdadeiro e único caminho para estarmos seguros em Sua Aliança e assim vermos a D’us!

Rosh Yossef Chaim (Maurício) – B'rit Olam.

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