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CRÍTICA TEXTUAL

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INTRODUÇÃO

A Crítica Textual Bíblica é uma ciência que aborda temas relacionados aos antigos manuscritos que deram origem ao que compreende hoje como Escrituras Sagradas, ou seja, a Bíblia como nos chegou ao presente século. O Criticismo Textual tem como objetivo principal aproximar o texto, o quanto for possível, de sua forma original e assim estabelecer por meio de regras minuciosas e específicas, a tradução mais fiel e restituir ao máximo à redação, o seu caráter assertivo, determinando as palavras do grego, hebraico e aramaico, que correspondem às línguas originais dos autógrafos sagrados, para a sua edição e tradução em diversas línguas.

 

O estudo dos manuscritos se sustenta por meio da abordagem equilibrada do texto, descartando o radicalismo cético e incrédulo de forma generalizada, bem como o radicalismo religioso, crédulo exacerbado, o qual não permite nenhuma dúvida em relação aos diversos textos, o que seria impossível, em ambas as abordagens, chegar a conclusões plausíveis e aplicar os critérios da Crítica Textual no texto Bíblico. Portanto queremos em nossa investigação e estudo através da Crítica Textual, abordar diversas questões como:

• Os Manuscritos Bíblicos e Sua Formação Estrutural.

• A Questão dos Autógrafos e Primeiras Cópias do Texto Grego.

• Principais Tipos e Famílias dos Manuscritos da B’rit Chadasha.

• As Características das Variantes Textuais.

• As Possíveis corrupções dos manuscritos Gregos e Versões.

• O Conteúdo Original nas Diversas Famílias de Manuscritos.

• A Essência da Fé Bíblica Preservada e as Variantes Textuais.

• Questões da Reconstrução do Conteúdo Original da Revelação Bíblica.

1- Os Manuscritos Bíblicos e Sua Formação Estrutural.

Manuscritos são inscrições do Texto Sagrado copilados em tinta em estruturas como papiros e pergaminhos em forma de rolos ou Codex. O Papiro (κιπηρυς παπιρθς) era o nome de uma planta cultivada ao redor do Rio Nilo no Egito a qual correspondia a matéria prima para confecção de material para literatura antiga, utilizado tanto no âmbito secular em documentos reais e de comércio, quanto nos escritos religiosos e Escrituras Sagradas Judaicas. Os pergaminhos foram desenvolvidos posteriormente, feito a partir de pele de animais como carneiros, cabras e novilhos, materiais muito mais resistente e de qualidade superior.

 

Acredita-se que foi desenvolvido na cidade de Pérgamo, na atual Turquia por volta do século II antes da era comum. Plínio, o Moço, historiador do primeiro século, relata em sua obra[1] que o Rei Eunenes II de Pérgamo, desenvolveu a tecnologia do pergaminho, pois queria construir uma biblioteca em seu reino mas foi impedido de importar papiro do Egito pelo boicote egípcio em razão da ameaça de concorrência com a grande Biblioteca de Alexandria[2]. Os manuscritos antes do I século eram produzidos em rolos com grafia somente de um lado da estrutura e eram enrolados como canudos ou em uma base de madeira que firmava de forma mais consistente folhas agrupadas e coladas umas as outras.

 

Após o I século, muitos eruditos acreditam que os primeiros talmidim, seguidores do Messias Yeshua, devido a perseguição daquele período, desenvolveram uma nova forma de produzir o texto sagrado que lhes proporcionasse mobilidade e portabilidade e assim foi desenvolvido o Codex. Este novo formato proporcionou vantagens sobre o anterior, estes eram confeccionados a partir de papiros grafados dos dois lados e costurados como um livro com capas de proteção. As comunidades de fé no Mashiach do primeiro e segundo século foram as principais responsáveis para a popularização do Codex, que também foi adotado como forma mais adequada de produção de literatura também no âmbito secular e por volta do sec. VIII todos os manuscritos da Brit Chadasha e outros estavam em forma de codex[3].

Manuscrito em Codex   

Manuscrito em Codex

Fragmento do Texto Grego

Codex Efraimita Sec. V (Palimpsestas)

Manuscrito em Rolo

Texto em Colunas

2- A Questão dos Autógrafos e Primeiras Cópias do Texto Grego.

Nós não temos os autógrafos dos Livros e Cartas das Escrituras nem mesmo o texto em sua pureza original em um manuscrito específico. Mas ainda existem grandes chances de se achar fragmentos importantes do início do II século ou até mesmo do I século. Contudo só temos muito poucos manuscritos deste período e que se acredita ser da quarta geração[4] e estão distantes a partir de 40 à 60 anos do original, no II século. Estas cópias foram fonte de reproduções que ao longo dos séculos receberam interferências externas nos demais manuscritos que quando comparados um com o outro apresentam divergências entre si. Estes primeiros manuscritos serviram de fonte para a produção dos diversos manuscritos que foram multiplicados e espalhados por todo o mundo. Quando havia a necessidade de adquirir um Livro ou Carta das Escrituras que circulavam pelas comunidades messiânicas dos primeiros séculos, ou quando os manuscritos ficavam deteriorados, estes eram substituídos por novos que eram produzidos e copilados a partir de um mais antigo, por pessoas qualificadas, mas também muitas vezes por pessoas não competentes para o ofício ou até mesmo, não bem intencionadas[5].

 

Em geral, os copistas do Segundo Testamento não tinham o mesmo profissionalismo e zelo como tinham os escribas judeus, que preservavam de forma minuciosa o texto sagrado do Tanach[6], o qual não poderia sofrer nenhuma alteração em relação ao anterior. Com o passar do tempo os manuscritos mais afastados do original foram sofrendo diversas inserções no relato grego, por diversas razões, os quais foram sendo multiplicados, e com eles as inserções ou modificações de termos ou palavras e até mesmo mudança de posição e erros de copistas, dando surgimento a diferenciações dos textos o que denominamos hoje de Variantes Textuais[7].

No entanto, segundo os estudos recentes, os especialistas acreditam que temos partes dos relatos Bíblicos que não sofreram corrupção e inserções externas. Estes são trechos e porções supostamente idênticas ao texto original em diversas partes da Brit Chadasha, presentes em diversos fragmentos, e porções nos manuscritos de qualidade, que foram reproduzidos fielmente a partir de cópias desde as fontes originais.

As primeiras cópias e os autógrafos, ou seja, os exemplares originais foram perdidos ou ainda estão em oculto em lugar não conhecido, em idioma grego ou mesmo em Hebraico[8] em alguns livros ou epístolas. É mais provável que tenham sido deteriorados devido ao tempo como também a precariedade da condição de preservação do material, levando em conta as diversas condições que viviam as comunidades de fé até o final do século terceiro, bem como as perseguições recorrentes de tempos em tempos no período. As perseguições dos primeiros séculos foram aspectos que contribuíram muito com a ausência de cópias antigas preservadas até o nosso século. Estas perseguições ocorreram principalmente desde o período do imperador romano Nero até Dioclesiano[9], em cerca de 250 anos, com períodos de tréguas e massacres aos judeus, aos discípulos de Yeshua e aos discípulos gentios. Todo o material e literatura sagrada nos períodos de perseguição, muitas vezes eram queimados em eventos públicos por ordem das autoridades romanas.

Estas perseguições se findaram no início do IV século com o Imperador Constantino[10] (272-337) que assinou o Edito de Tolerância em 313, concedendo permissão da existência de outras religiões até então proibidas em todo o Império Romano. Tendo Constantino interesse político em unificar o Império, lançou mão da religião para se fortalecer politicamente, apoiando a criação da religião cristã que estava em formação, dando privilégios e amparo para as comunidades que se ligavam a sua cúpula. Com isso cessou a perseguição religiosa no Império Romano e consequentemente preservou o que restou do material literário, as cópias dos manuscritos das Escrituras Sagradas que no período já se encontravam em parte com trechos corrompidos e alterados. Neste período, o historiador Eusébio relata em sua obra[11] que foi copilado a pedido de Constantino, cerca de cinquenta exemplares de diversos livros e cartas das Escrituras Sagradas para uso das comunidades.

3- Principais Tipos e Famílias dos Manuscritos da B’rit Hadasha.

Os manuscritos gregos podem ser denominados em: “Minúsculos” escritos em letras gregas minúsculas e “Unciais”, que são escritos em letra maiúscula em manuscritos mais antigos. Os Tipos de Manuscritos corresponde ao agrupamento de conteúdo que incorporam características similares. A análise textual conclui que é um tipo de texto quando a similaridade ocorre em um mesmo lugar. As quatro principais Famílias de Manuscritos são: Alexandrino, Ocidental, Cezareano e Bizantino. Os principais Manuscritos Gregos da atualidade são reconhecidos pela sua qualidade, antiguidade e integridade.

 

Os principais até o momento são: o Sinaítico, denominado Codex Alfa do século IV exposto na Biblioteca de Leningrado, o Alexandrino, o Codex A do século IV que se encontra na Biblioteca de Londres, o Vaticano, Codex B do século IV em posse do Vaticano e o Codex Efraim do Sec V no museu Louvre em Paris.

a- Numero e Datação dos Manuscritos Hoje Disponíveis.

Até Julho de 2015 nós tínhamos 5849 manuscritos do NT publicados. Estes estão disponíveis em coleções de livros e cartas das Escrituras da Brit Hadasha em forma de Codex. São grupos de Cartas de Rav Shaul, as Bessorot[12], Epístolas Gerais, somente livros como Apocalipse, Yacov[13] e um grande número de fragmentos de livros e cartas identificadas e catalogadas. Somente cerca de 60 manuscritos irão conter a Brit Chadasha em toda a sua totalidade. A média das paginas dos 5849 manuscritos é de 459 paginas e no total mais de 3.000.000 de paginas de manuscritos gregos da Brit Chadasha publicados.

 

As primeiras Bíblias em forma de livro foram impressas em 1456 por Johann Gutenberg na atual Mainz, Alemanha. Gutenberg utilizou uma prensa para a impressão e o evento marca o início da produção de livros em massa. Elas foram produzidas em Latim e seus textos foram feitos em duas colunas e encadernada em dois volumes, produzidas parte em papel, parte em pergaminho, cerca de 180 cópias. Neste período somente havia cerca de 2.000 manuscritos gregos em forma de Codex e Rolos.

 

b- Relação dos Manuscritos Gregos até X sec.

• II sec .................................................12 manuscritos (40% do total)

• III sec.................................................61 manuscritos (100% do total)

• IV sec ...............................................121 manuscritos

• V sec ................................................179 manuscritos

• VI sec ...............................................258 manuscritos

• VII sec ..............................................302 manuscritos

• VIII sec .............................................370 manuscritos

• IX sec ...............................................585 manuscritos

• X sec ................................................967 manuscritos

• Nos demais séculos temos no total 5849 manuscritos gregos da Brit Chadasha publicados até julho de 2015.

EXEMPLARES DAS PRIMEIRAS BÍBLIAS DE GUTENBERG

Capa do Codex C – V sec.

Codex

4- As Características das Variantes Textuais.

Estas concepções e formas de tratar e reproduzir o Texto Sagrado pelos escribas da Brit Chadashá causaram diversos problemas de múltiplas ordens originando assim as Variantes Textuais. Estas correspondem às diferenças de palavras no texto sagrado, quando se comparam manuscritos distintos cujas diferenças ou divergências podem ser de diversas origens como:

• Diferença de palavras sinônimas ou não.

• Erro de grafia da palavra grega.

• Mudança das ordens das palavras.

• Diferenças de soletração.

• Omissão ou adição de palavras ou frases no texto.

• Qualquer outra divergência que se apresenta no texto.

 

C- Variantes Textuais Entre Manuscritos do Tanach e Brit Chadasha.

A princípio temos que distinguir entre a forma e concepção do ato de copilar o texto sagrado nas culturas judaicas e cristãs católicas da Antiguidade e Idade Média. A concepção judaica de Escritura Sagrada, segundo a tradição consiste em considerar que HaShem, Bendito seja ditou a Torah para Moshe Rabeinu letra por letra e palavra por palavra. Os Neviim e Ketuvim, Escritos e Profetas, também carregam todo um cuidado especial para a reprodução a partir de um manuscrito mais antigo.

No caso da cultura cristã, entre os escribas da Antiguidade e da Idade Média não houve este minucioso zelo e cuidado em muitos copistas em preservar as palavras ou termos gregos. O que se julgava primordial ou mais importante, segundo suas concepções, era preservar o conteúdo e a essência interpretativa e tentar corrigir um suposto equivoco no manuscrito fonte ou mesmo esclarecer e atualizar a redação para se fosse inteligível e adequado para a leitura e o entendimento no presente período onde estavam. Estas ações acabaram prejudicando severamente a preservação do conteúdo original se distanciando de forma significativa da originalidade da redação. Entretanto existem manuscritos que pela sua qualidade, ainda se encontram em seu estado menos corrompido de acordo com estudos e técnicas da Critica Textual.

Existem aproximadamente 140.000 palavras no texto grego da Brit Chadasha. Nos primeiros oito séculos, os dois mais próximos manuscritos tem de 6 a 10 variantes por capítulo, chegando a ter no total da Brit Chadashá entre eles o número de 2.000 variantes. Se formos considerar todos os manuscritos que nos chegaram até os dias de hoje temos aproximadamente 400.000 variante e isso supera em muito o numero das palavras da Brit Chadasha. Contudo com um só texto não existem variantes textuais. No entanto existe quantidade expressiva de variantes simplesmente pelo fato de haver um número vasto de manuscritos. Segundo especialistas da Crítica Textual, se tivéssemos poucos manuscritos teríamos também poucas variantes e isso dificultaria em muito uma ação para que o texto original pudesse ser resgatado.

Assim é preferível, segundo especialistas ter maior número de manuscritos, mesmo elevando o número de variantes do que ter menor numero de textos e menos variantes. Desta forma um manuscrito poderá ser comparado e selecionado, suas partes serem completadas e comparadas umas as outras, o que leva a dar mais autoridade para a conclusão e maior segurança, uma vez aplicada as técnicas e mecanismos que a Crítica Textual disponibiliza, contando também como as diversas ciências que cercam o estudo e a investigação textual como a arqueologia, datações, linguística, etc. “A medida que o tempo corre estamos chegando cada vez mais perto do texto original”[14].

Existem milhares de manuscritos do TaNaCh em hebraico sendo sua datação do final da antiguidade e a grande maioria da Idade Média. Os manuscritos da LXX Septuaginta[15] também se encontram em datações bem antigas. Com a descoberta dos manuscritos do Mar Morto16 foram constatados evidências quase exatas aos mais tardios manuscritos que foram descobertos. Os três códex de Isaías encontrados no Mar Morto são similares, quase exatos entre si e entre o Codex Leningrado o qual nossas versões do Tanach estão baseadas.

Contudo nem todos os manuscritos hebraicos possuem esta exatidão, em especial os Profetas e Escritos, no entanto suas variantes textuais são significativamente inferiores quando comparados aos da Brit Chadasha.

 

D- Os Argumentos Contrários da Autoridade Bíblica.

 

Ultimamente temos vivenciado mais intensamente uma série de ataques contra a veracidade das Escrituras Sagradas, colocando em dúvida a sua autoridade. Dentre muitas são críticas feitas por leigos, muitos autores de livros de ficção e romancistas que tem atingido recorde de vendas com temas ligados a suposta desconstrução da Fé Bíblica, bem como no confronto com o judaísmo tradicional no que diz respeito ao Messias de Israel, Yeshua Hamashiach. Também encontramos da mesma forma, eruditos da alta crítica, pessoas reconhecidamente capacitadas que através de seu ceticismo buscam persuadir seus leitores que a Bíblia não é confiável e que é impossível resgatar os textos originais, especialmente os da Brit Chadasha que segundo eles foram perdidos para sempre. Estes autores com suas obras literárias, também atingem níveis de vendas astronômicas de livros ligados ao tema pois vendem para o cético e também para aqueles que querem refutar suas teses. Seus argumentos em geral envolvem disposições extremistas e negativas, forçando posições muitas vezes pelo exagero e pessimismo.

Contudo, os eruditos de argumentos céticos tem encontrado oposição de teses por outros eruditos igualmente capacitados em estabelecer a verdade através da ciência da Critica Textual e pelos documentos e achados arqueológicos que nos chegaram até o presente. Esta ciência é extremamente dinâmica pois existe a cada ano que passa, novas descobertas que tem somado este importante trabalho de resgate como também desmoralizado as teses e argumentos céticos contra as Escrituras Sagradas.

 

E- Variantes Textuais Nas Doutrinas Fundamentais.

 

O Dr. Daniel Wallace, renomado Critico Textual da atualidade declarou: “Nenhuma doutrina essencial é desmontada pelas variantes textuais do NT. Se encontrássemos importantes variantes, significantes e viáveis nos manuscritos, mais antigos e de melhor qualidade, em lugares centrais das doutrinas fundamentais, a fé bíblica do NT estaria em grandes complicações”.

Portanto, segundo os mais renomados especialistas que defendem a posição da autoridade Bíblica, afirmam que os problemas textuais de corrupção do relato Bíblico e a presença intensa de variantes textuais não se encontram concentradas em lugares centrais onde se acha temas importantes que dão base às doutrinas da fé Bíblica. As acusações contra a autoridade das Escrituras generalizam o problema tentando lançar informações supostamente importantes em locais centrais da essência Bíblica o que não corresponde com a realidade.

É justamente este panorama que os céticos tentam impor, insistindo em inserir textos mais recentes e comprovadamente sem muita autoridade alegando com isso comprometer passagens das doutrinas fundamentais da B’rit Chadasha, as quais as variantes nestes locais não conseguem macular. Esta afirmação de que as variantes não afetam temas centrais da fé da Brit Chadasha também foi feita pelo ateu e cético do NT, especialista em Crítica Textual, Bart Ehrman[17] no apêndice de seu livro “O que Jesus disse e o que Jesus não disse”. No entanto na segunda edição desta obra, esta afirmação feita pelo autor foi retirada provavelmente, para não afetar as vendas do livro. Portanto as variantes que poderiam comprometer a Brit Chadasha, as que os céticos e ateus defendem são muito tardias e em manuscritos que não são importantes e em lugares de pouca relevância doutrinaria. Por isso não conseguem afetar qualquer uma das doutrinas fundamentais da Fé Bíblica. Os que defendem a falta de autoridade Bíblica, em geral esta informação é omitida ou encoberta.

F- A B’rit Chadasha Comparada aos Textos Clássicos.

Quando se compara os manuscritos da Brit Chadasha com as obras clássicas grego romanas, nos deparamos com uma proporção desarmônica das partes. Em Plutarch, Platão, Polybios, Pausanias, Herodoto, Josefo, Xenofontes, Plínio o Velho, etc, nelas encontramos uma média de somente 15 cópias descobertas até hoje. Entre os manuscritos clássicos e os da Brit Chadasha, empilhando-os lado a lado, os clássicos somariam cerca de 1,20m de altura, e os manuscritos da Brit Chadasha alcançariam cerca de 2.015m de altura.

Os manuscritos das obras clássicas, apesar de sua escassez e suas variantes, não sofrem críticas dos céticos e ateus quanto a sua autenticidade, mas pelo contrario, todos eles reconhecem e testificam sobre sua veracidade e autoridade. Os céticos afirmam que podem acreditar, a partir dos escritos, no que Platão disse, no que Sócrates ensinou e o que, por exemplo, ocorreu na guerra de Troia. Contudo se formos considerar o parâmetro que os críticos céticos querem impor para a Brit Chadasha, estes textos clássicos não teriam quase nada de autoridade em relação aos seus originais. Portanto utilizando o mesmo crivo, os críticos da Brit Chadasha, devem multiplicar o ceticismo em relação às obras clássicas ou mesmo desconsidera-las.

G- Quadro Comparativo Das Obras Clássicas com a Brit Chadasha.

H- As Versões e Traduções Antigas da B’rit Chadasha.

 

No século III o Latim havia se sobreposto ao grego como língua mais popular no Império Romano. A tradução para o latim ocorreu já no IV século com a Vulgata[18] por Jerônimo que utilizou também do texto Hebraico para o Primeiro Testamento e isso exerceu grande influência no que diz respeito a interpretação da essência dos Textos Sagrados. Existem mais manuscritos em latim do que em grego, ou seja, cerca de 10.000 manuscritos que serviam às comunidades da Idade Média. Há também manuscritos antigos nas línguas copta, siríaca, aramaico, gótico e todas elas entre 5.000 a 6.000 manuscritos. Estas versões apoiam a essência das doutrinas fundamentais da Fé da Brit Chadasha.

Temos também os autores da Patristica[19] que escreveram acerca da fé bíblica a partir do I sec, mas estão dispostas principalmente do sec. II ao V, citando versículos e comentando sobre as Escrituras. Estas obras são muito vastas e foram preservadas em grego como também em outras línguas, sendo que com as referências que temos dos escritos patrísticos hoje, poderíamos reproduzir várias vezes a Brit Chadasha somente com elas.

A Versão Siríaca é a Peshita que significa “versão simples”, um dialeto do aramaico que utiliza caracteres siríaco mas que também é transliterado e traduzido em outras línguas. O Tanach foi traduzido em siríaco no século II e apesar das comunidades locais utilizarem a Septuaginta, a Peshita do Primeiro Testamento foi traduzida diretamente do Hebraico, provável fonte dos textos do hebraico medieval e massorético. No texto é identificado influencias do Targum Aramaico e provavelmente fora traduzido da região de Edessa ou Irbil e Adiabena, locais de forte presença judaica no período.

 

É provável que a versão do Segundo Testamento tenha sido composta no século II, e, majoritariamente, os especialistas acreditam ser diretamente traduzida do grego contudo há divergências de opinião afirmando ter indícios que tenha como fonte manuscritos hebraicos de documentos muito próximos dos originais. Foram adicionados alguns livros como Apocalipse e Segunda de Pedro que não constavam até o V século, a Peshita revisada foi a Bíblia padrão em siríaco das Igrejas Ortodoxa Síria, Católica Siríaca, Assíria dentre outras. Enfim a Peshita consiste em uma excelente Versão das Escrituras pois reúne elementos alternativos mais ligados as questões culturais similares.

PESHITA: TEXTO EM SIRÍACO

I- Os Manuscritos do Mar Morto 

Os Manuscritos do Mar Morto foram encontrados entre 1946 e 1956 nas Cavernas de Qunran em Israel. Eles representam o achado arqueológico mais importante do século XX. Estes são documentos e manuscritos de mais de 2.100 anos e cerca de 20 mil fragmentos majoritariamente em hebraico, pergaminhos e papiros, muitos intactos e outros deteriorados. Eles estão separados em literatura do Canon Bíblico, cerca de 40% do total, literaturas apócrifas 30% e Sectárias da comunidade dos Essênios[20] que habitavam a região, cerca de 30%. Estes estavam acomodados dentro de vasos de argila e preservados devido as condições favoráveis de umidade do ar e ausência de luz. Os achados dos manuscritos foram de importância vital para as pesquisas e estudos das Sagradas Escrituras ao longo de 70 anos.

 

Através destas descobertas foi comprovada a autenticidade Bíblica em especial do Primeiro Testamento. Esta contribuição se deu tanto na confirmação e novos entendimentos no que diz respeito à história da comunidade e seus aspectos culturais relacionados com elementos sociais externos, como também na literatura Bíblica atestando os textos em consonância com os existentes no período. O Rolo do Manuscrito do Livro de Isaías exposto no Museu do Livro em Jerusalém representa um dos mais valiosos tesouros literários do mundo com seu conteúdo quase idêntico com os massoréticos. 

 

Com as tecnologias avançadas de hoje, muitos fragmentos estão sendo decifrados por especialistas auxiliados por programas e equipamentos de alto nível. Os computadores podem identificar minucias que o olho humano não percebe e disponibiliza as sequencias como de um complexo quebra cabeças de fragmentos para que seja pelo homem estabelecido. Outro recurso importantíssimo é a fotografia infravermelha e multiespectral que permite a visualização de palavras ocultas em materiais parcialmente deteriorados e escurecidos pelo tempo. Existe também grande investimento no projeto de decifração dos manuscritos como também a divulgação das imagens de manuscritos e fragmentos em sites científicos para pesquisa.  

Manuscrito de Isaías em Israel (2.100 anos) 

Cavernas de Qunran

Manuscritos em rolos

Vasos de Cerâmica para Manuscritos

Manuscrito em rolo com estrutura de madeira

J- Os Impactos das Descobertas de Novos Manuscritos.

No sec XIX surgiu uma questão teológica afirmando que o Evangelho de João não poderia ter sido composto antes da metade ou final do segundo século. Isto implicava em uma série de indicações e graves consequências, principalmente em relação a divindade do Mashiach afirmada no seu primeiro capitulo que supostamente acreditavam que seria uma concepção teológica mais tardia e que no primeiro e metade do segundo século não existiria a atribuição divina dada à Yeshua.

 

Até que surgiu um achado que veio a desabar de uma só vez todo um edifício construído em décadas na suposição que se mostrou equivocada, desqualificando totalmente diversas teses do âmbito que dominavam o meio acadêmico. Trata-se do manuscrito P 52 descoberto em 1934 e que se encontra hoje no museu da Universidade de Manchester. Este é um fragmento do Evangelho de João cap. 18 grafado dos dois lados, datado e comprovado entre 90 até 115 d.C.

“Nós temos as evidências do nosso lado e eles tem somente pressuposições”[21]. Assim afirma Daniel Wallace, uma das principais autoridades mundiais de crítica textual da atualidade: “Mais vale uma grama de evidência do que um kilo de pressuposições”[22].

 

Fragmento P 52 (entre 90 e 115 e.c.) João 18:31-33 e 18:37-38.

Existe portanto, um número muito grande de manuscritos descobertos até hoje que no passado não haviam. No século XVIII só estava disponível cerca de 99 manuscritos da Brit Chadasha. Assim os eruditos que atestam a autoridade Bíblica atestam que hoje há uma crescente convicção de que já temos o Texto Sagrado Original, no entanto ele se encontra no emaranhado textual nos diversos e melhores manuscritos gregos e siríacos disponíveis. Cabe então uma apurada investigação, como está sendo feita o que nos permite afirmar que estamos muito próximos do texto original das Escrituras Sagradas.  “A Fé Bíblica é uma fé histórica e a Bíblia é o único texto sagrado que se coloca a si mesmo debaixo da investigação histórica”[23].

 

Assim a Bíblia fala sobre geografia, épocas, períodos, conflitos bélicos, reinados, fatos históricos que podem ser confirmados e comparados com outros documentos históricos e com a arqueologia, desta forma as Escrituras se expõe ao exame histórico. Nossa fé e as Escrituras não estão sendo desconstruídas, mas confirmadas com fatos e provas ao longo dos anos. Como diz as Escrituras: (...) E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E foi visto por Kefa, e pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Yaacov, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo.” (1 Coríntios 15:4-8).

 

BIBLIOGRAFIA 

Paroschi, Wilson; Critica Textual do Novo Testamento Editora Vida Nova 2010. 

Champlin, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado, Editora Sociedade Religiosa A Voz Bíblica Brasileira.  

Vermes, Geza; Os Manuscritos do Mar MortoTrad. Julia barany, Maria helena de Oliveira, Editora Mercuryo, 1997. 

A Bíblia e Sua História, O Surgimento e Impacto da Bíblia; Trad. Magda D.Z. Hf e Fernando Huf; Editora SBB 2010. 

Giraldi, Luiz Antonio; A História da Bíblia no Brasil; Editora SBB 2007. 

História Eclesiástica – Eusébio de Cesaréia, Trad. Wolfgang Ficher Editora Novo Século, 1999. 

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Lexico Grego Portugues do NT, Baseado em Domínios Semânticos; Louw Johannes, Nida Eugene; Trad. Vilson Scholz, SBB, 2013.  

Ciampa, Roy E. Manual de Referência para a Crítica Textual do NT. 

Daniel Wallace - Uma revisão de Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why; de Bart D. Ehrman, feita por Daniel Wallace, http://www.bible.org

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